sábado, 26 de julho de 2014

IS THIS THE WORLD WE CREATED? - para que ninguém esqueça



Dr. Mads Gilbert com uma jovem vítima das Forças de Ataque de Israel que os judeus consideram “o exército mais ético do mundo” durante a operação Protective Edge — Limite Protetor — de Julho de 2014.

A carta abaixo foi escrita de Gaza pelo médico voluntário norueguês Dr. Mads Gilbert, PhD e professor e chefe da Clínica de Emergência do Hospital Universitário no norte da Noruega. O Dr. Mads escreve:.

Queridos amigos

A noite passada foi terrível. A invasão por terra da faixa de Gaza pelas forças de Ataque de Israel resultou numa multidão de pessoas aleijadas, arrebentadas, sangrando, tremendo de frio e morrendo — isso inclui todo tipo de palestinos feridos, de todas as idades, todos civis, todos inocentes.

Os heróis que dirigem as ambulâncias e todos os hospitais na faixa de Gaza estão trabalhando em turnos de 12 a 24 horas, e mostram rostos cansados e estão fatigados pela carga desumana de trabalho. Os motoristas de Shifa estão há quatro meses sem receber seus salários, mas mesmo assim cuidam, fazem triagens e tentam entender o caos incompreensível causado pelos corpos, tamanhos, partes de corpos humanos, pessoas capazes de andar ou que não são capazes de andar, pessoas que estão respirando ou que pararam de respirar, pessoas sagrando e pessoas que não estão sangrando. Em uma palavra: HUMANOS! SERES HUMANOS! Mas todos esses seres humanos estão NOVAMENTE sendo tratados como ANIMAIS por um grupo fardado de assassinos que se considera “o exército mais ético do mundo”. Existe mesmo algo muito doentio na mentalidade israelita.

Meu respeito pelos feridos é infinito, por causa da determinação contida que demonstram no meio da dor, da agonia e do choque. Minha admiração pelos auxiliares e voluntários também é infinita. Minha proximidade com os “sumud” palestinos — pessoas que estão arraigadas na terra — me dá forças, apesar de que existem momentos em que eu quero gritar, segurar-me firme em alguém, chorar, cheirar a pele e os cabelos de uma criança “morna” coberta de sangue, e nos proteger a nós mesmos num abraço sem fim — mas nós não podemos nos dar a esse luxo e nem eles também.

Rostos cinzentos — Oh! Não! Não outro grupo de dezenas de aleijados e ensanguentados, que criam um verdadeiro lago de sangue no chão da sala de emergências. Pilhas de bandagens encharcadas de sangue pingando que precisam ser removidas e trocadas — Oh! — o pessoal da limpeza, por todos os lados, limpando o sangue e recolhendo bandagens, pele humana, cabelos, roupas e cânulas — as sobras da morte — tudo levado embora para que possam estar prontos novamente para repetir, outra vez, todo o processo.    

Mais de 100 casos chegaram em Shifa nas últimas 24 horas que é uma quantidade de vítimas que deveriam ser atendidas em um grande hospital bem equipado, mas aqui, — não temos quase nada: falta electricidade, água, materiais descartáveis, remédios, mesas para cirurgias, instrumentos cirúrgicos, monitores — tudo está enferrujado e parecem objetos de algum museu hospitalar de dias passados. Mas as pessoas aqui não reclamam, esses heróis. Ele seguem adiante, como guerreiros, indo ao encontro do problema com uma resolução enorme.

E enquanto escrevo essas palavras para vocês, sozinho em uma cama, minhas lágrimas correm, lágrimas mornas, mas inúteis de dor e tristeza e medo. Digo a mim mesmo: isso não está acontecendo!
E então, agora mesmo, a orquestra da máquina de guerra de Israel dá início a sua nefasta sintonia, outra vez: tiros de artilharia pesada vindos do mar dos barcos de guerra israelenses, o barulho ensurdecedor dos caças F-16, o barulho doentio dos drones — são chamados pelo árabes de “Zenanis” os murmuradores — além do inúmeros helicópteros apaches. A vasta maioria desse material foi fabricado e servido pelos Estados Unidos da América para Israel.

Sr. Obama — você tem um coração?

Eu te convido — venha passar uma noite — apenas uma noite connosco aqui em Shafir. O senhor poderia vir disfarçado com alguém da limpeza, talvez.

Eu tenho plena convicção que sua atitude poderia mudar a história.

Ninguém que tenha um coração e detenha poder conseguiria se afastar das imagens de uma noite em Shifa, sem assumir a determinação de dar um fim a essa matança do povo Palestino.

Mas os indivíduos sem coração e sem misericórdia já planearam outra “dahyia” — a doutrina da Dahyia é uma estratégia militar estabelecida pelo general israelita Gadi Eizenkot e diz respeito a uma guerra assimétrica em áreas urbanas, na qual o exército, de forma deliberada, procura destruir a infraestrutura civil, como um meio de infligir enorme sofrimento na população civil para estabelecer a detenção de todos. 
Os rios de sangue continuarão correndo hoje a noite. Eu posso ouvir os assassinos afinando seus instrumentos de morte.

Por favor, façam o que for possível. Isso, ISSO não pode continuar.

Mads

Gaza, Palestina Ocupada.

Dr. Mads Gilbert, PhD.


PERANTE TUDO ISTO A MINHA BOCA FICA SECA, A PELE GELADA.... O ASSASSÍNIO DE CRIANÇAS... VITIMAS INOCENTES, UMA GUERRA SEM FIM, MOVIDA PELO ÓDIO, PELA ESTUPIDEZ, PELA RELIGIÃO...
E O MUNDO PERMITE...
O MEU RESPEITO POR ESTE MÉDICO E TODOS OS OUTROS MÉDICOS, ENFERMEIROS, AUXILIARES E SOCORRISTAS QUE DIARIAMENTE VIVEM UM FILME DE TERROR, COLOCANDO AS SUAS PRÓPRIAS VIDAS EM RISCO, PARA TENTAR SALVAR UMA VIDA
PERANTE TUDO ISTO SÓ ME VEM A CABEÇA ESTA MÚSICA... DO MELHOR CANTOR DE TODOS OS TEMPOS

terça-feira, 15 de julho de 2014

Opiniões XI - Desabafos de assistentes operacionais

Sei que não é nestes comentários que devia escrever o que me vai na alma. Não sei como escrever em outro sitio. O que se passa no hospital com os serviços gerais é de outro mundo que não aquele em que vivo. Eu pergunto a mim mesma e já agora a quem souber, por favor, responda: - a que se deve a falta de assistentes operacionais? As escalas não têm número suficiente de assistentes operacionais para as encarregadas as fazerem. O porquê de haver assistentes operacionais no meu serviço a aguardarem há meses, em casa, a renovação dos contratos, quando se vê funcionários de outras classes a serem contratados. É loucura total a exigirem das encarregadas os rácios, quando é visível que não têm assistentes operacionais para manterem esses rácios. Por favor respondam-me, de quem é a responsabilidade destas situações. Sei que por vezes são atacadas porque nos põem cinco dias seguidos a trabalhar, mas faço mea culpa elas não conseguem. Não há alguém do conselho de administração que veja o que se está a passar? É uma súplica que faço, por favor não nos devorem. Somos funcionários que temos o valor que temos, para alguns nenhum, mas temos, mas por vezes dou por mim a pensar será que temos? ou será que só nos querem para limpar o chão? mas quando alguma de nós falta cai o Carmo e a Trindade. Quando há quinze anos entrei para o hospital, o médico, o enfermeiro e a auxiliar eram uma equipa onde todos se respeitavam, todos trabalhavam em equipa, hoje somos meros números e poucas. Será que somos pessoas ou animais? Se alguém souber responda, se for eu a responder, respondo animais.